sexta-feira, 8 de fevereiro de 2013

Questão de prioridade



Se tem pressa

não me peça.


Meu tempo é dividido

entre o verdadeiro

e o obrigatório;

o correto

e o transitório...

não necessariamente

nessa mesma ordem...


A minha prioridade

"a priori" —

não tem idade, menino;

pode não ser

a que manda o figurino...



Surreal



O escrevinhador

faz-se um pouco deus,

tornando real e palpável

o abstrato,

o indefinível,

o inexprimível,

o imponderável...


como se a palavra

— impressa ou manuscrita —

criasse vida própria

e só então

tudo passasse a existir...


sendo esse tudo

infinitos universos

que nascem a cada momento

dentro do poeta


ou flutuam no Universo

esperando serem descobertos...



Estrela pequenina



Fazer brilhar

o sol

em toda sua plenitude

— sem tempestade,

sem nuvem —

é ambição de estrela

cuja grandeza pouco importa,

enquanto proporcional...



Ambição




Egoísta,

insegura

e possessiva,

o único poder que deseja

é o de

fazer feliz,

despertar

aquele brilho nos olhos,

fazer brotar

aquele sorriso nos lábios,

desmanchar

qualquer nuvem do rosto

e arrancar

toda forma de dor...



Pré-texto



Uma folha que sobrou.

Uma música que tocou.

Uma brisa que soprou.

Tudo é pretexto

para o poeta...


O instante que passou

eternizado

na letra

mágica

que tem o poder

de tornar real.



Visibilidade




É gritante

a tua obviedade.

Estampa-se no rosto

o sim,

o não,

o tanto faz...


Foge.

Esconde-te.

Veste-te.

Que andar assim nua

é pecado.

E essa tua inocência

ainda vai te condenar...



Atrevimento



Chamam-me atrevida...

A-TRE-VI-DA???

a-tre-vi-da...

Ah!

ter

VIDA!!!



Mito



Será (mesmo) verdade

que o sexo é,

para o homem,

causa

e para a mulher,

consequência?



Brilho



Poderão os raios solares

ofuscarem o próprio sol?

Como poderia então

a paixão

ofuscar o amor?



Arrepio



Tão fora de hora,

fecho os olhos

e solto um suspiro profundo...


Perguntam-me

se estou passando mal.

Não, estou passando bem,

muito bem!

Foi apenas uma brisa suave

que passou...



Reflexo




Engraçado

como repreendemos nos filhos

nossos próprios defeitos...



Harmonia



Dentro do verde dos teus olhos,

uma estrela azul,

com um ponto de equilíbrio em cada ponta

e em cujo centro

bate um coração cor-de-rosa.

Signos



Parada,

é nada.

Em torrente,

arrasta.

Represada,

é força incomensurável

que explode, avassaladora.


Aguarda

em seu límpido

íntimo

mergulhar...

Gota a gota

saciar...



Pequena



Menina,

a concorrência

não pode te diminuir;

deve te lisonjear.

Afinal,

é você quem está lá!




Senhora



Mulher,

se fosse "de respeito",

engolia a poesia,

tomava banho gelado,

botava o papel de lado

e encarava um tanque ...



Sonho



Um mundo

onde não haja preconceito,

nem culpa,

nem medo.


E cada um se lembre

de agradecer

o dom da vida.



Desejo



Que não haja proibido.

Que o amor

sob a forma que for —

nunca deixe de ser essência.




Mágica



Um dia escrevi:

Não há realidade

que possa competir

com o sonho.


Hoje me desminto:

Às vezes a realidade

pode até superar

o sonho.



VISLUMBRE (Idealização)



Já não me consola a ilusão

de que o ideal só é perfeito

enquanto não é real...


Posso ver claramente

que a perfeição

não sairá dos meus olhos...

Transição


Quão pequena é a minha fé,

que não confia...

Mesmo sabendo que tudo

sempre será para o melhor,

ainda teme que esse "melhor"

não seja o meu desejo,

não seja o que deseja

o meu desejo...

Razão de Renato


Qualquer

que o tenha feito feliz

quiçá mais que eu —

perfura minh'alma,

que se cobre de vergonha

por tão vil sentimento...


Qualquer

que o tenha feito chorar

provoca em meu ser fúria tal,

maior que se em meu próprio peito

atingisse o golpe fatal...


"E quem um dia irá dizer

que existe razão

nas coisas feitas pelo coração?

E quem irá dizer

que não existe razão???"


Ciúme



Uma parte de mim

da qual devo me envergonhar,

mas que não sei controlar,

sente ímpetos de matar

alguém que nem sei quem é

— uma sombra do passado (?)

que teima em me assombrar...


Porém, não apenas matar

na verdade, eliminar,

fazer deixar de existir,

D-E-L-E-T-A-R!!!

como se nunca tivesse havido

alguém capaz

de despertar

nele qualquer sentimento

que possa quem sabe talvez ter sido

maior,

melhor

ou mais importante

que eu...


Eu,

que mais que tudo na vida

queria ser capaz

de nele despertar

o maior amor

e nunca nenhuma dor...

De direito



Oficializado

ainda que absurdo —

o ciúme seria declarado,

assumido,

respeitado...


Regularizado

ainda que abusivo —

seria considerado,

compreendido,

perdoado...


Justificado

ainda que injustificável.

Sem mal-estar.

Censura



Não os culpo.

Na nossa sociedade,

a clandestinidade

é mesmo o único destino

da verdade.




Corpo-espelho



A maciez da voz

do toque

do beijo

do roçar

das palavras

é a da alma.


O calor da voz

do toque

do beijo

do roçar

das palavras

é o do coração.



PRESENTE (Concretização)



...Nessa ausência de mim,

a intensa presença de você...



RE-NEGAÇÃO II (Abdicação)


Você

que sabe apreciar o poder,

por que se recusa a reinar?

Por que não aceita ser deus,

quando tem nas mãos

o destino

sorrir ou chorar...

viver ou murchar...—

de uma vida?


Nada é por acaso.

Ninguém pode assumir seu papel,

nem fazer a sua colheita!


"O medo de amar

é não arriscar,

esperando que façam por nós

o que é o nosso dever;

recusar o poder.

O medo de amar

é o medo de ser livre."



Cumplicidade



Quem ama de fato

está no mesmo barco;


nunca haverá culpa(do)

se algo der errado.



Conjunção



Vem assim

caber inteiro

enfim...

Que a sede

por todos os poros

não pode esperar...

Que o fogo

úmido

não vai te queimar...

Que a água

salgada

não vai me afogar...

Que o centro

precisa do eixo

para equilibrar...

E o céu

continua esperando

o mel...


Vem assim

no começo, no meio...

Quem sabe um dia,

no fim...



Status



Preste atenção

para não abusar do poder

do ser

do saber

do fazer

do dizer

do parecer...


Cuidado

para não se perder

no eu.



Visão



Olhos do pai.

Cachos da mãe.

Corre nos campos.

Brinca nos mares.


Joga beijinhos das nuvens.

Me sorri das estrelas.

Faz "tchauzinho" de um tempo distante,

que não sei se já foi ou ainda virá...


Seu sorriso compreensivo,

quase condescendente,

diz para eu ter calma,

que tudo tem seu tempo.


Obrigada, menino-anjo,

por vir da eternidade para me consolar.

Carrega-me hoje em teus braços,

que um dia em meu seio vou te aconchegar...

Canção de ninar



Vovô-menino

Cabelos quase grisalhos,

rosto de anjo,

sorriso de menino,

olhos de homem,

expressão adolescente...


Vovô moleque

Rola comigo no chão...

Faz das palavras

brinquedos para mim...


Quando eu crescer,

quero a candura do seu rosto,

a doçura do seu sorriso,

a força dos seus olhos,

a malícia da sua expressão...


Quando eu nascer,

quero sentar no seu colo

e ouvir suas histórias...

E depois,

quero deitar sua cabeça no meu colo

e te fazer adormecer,

com meus dedinhos entre os seus cabelos,

cantando uma canção infantil.

DESPERTAMENTO (um conto em versos)

Por acaso, olhei para o céu.

E, admirada, vi estrelas.

E de repente me dei conta:

— Há quanto tempo eu não via estrelas!

Aliás, há quanto tempo eu não olhava para o céu?


Minha filha de oito anos chamou-me a atenção:

— Mãe, eu te disse "Como o céu está lindo, cheio de estrelas!"...

Mas você não ouviu...

E de repente me dei conta que o meu filho de sete anos,

moleque de cidade, saudavelmente "arteiro"

— que vive "escalando" muros, lajes, grades

e tudo o que mais perigoso encontrar

na sua infância urbana —

NUNCA havia subido em uma árvore...

E ao ouvir uma vozinha perguntando

— Mãe, o que é isso? —

de repente, chocada, me dei conta que,

nos seus quatro aninhos de vida,

a minha caçula NUNCA tinha visto uma vaca!


E de repente me dei conta de como a gente, nessa vida,

se acostuma a andar sempre olhando para o chão,

com medo de tropeçar, e para a frente,

com medo de perder o rumo...


E isso me lembra O Pequeno Príncipe:

— "Quem olha sempre para a frente

não pode mesmo chegar a nenhum lugar"...



quinta-feira, 7 de fevereiro de 2013

Tempo tempo tempo tempo...


A chegada de um novo ano me fez refletir sobre o tempo...


Houve um tempo em que desejei que a nossa família fosse normal... Não no sentido convencional, mas no de sermos todos próximo, convivermos mais... Só mais tarde eu descobri que de perto nenhuma família é normal. E que somos todos crianças no Jardim da Infância, assustadas e querendo colo.


Houve um tempo em que eu nos sentia muito sós. Sentia falta dos almoços de domingo, avós, tios, primos, padrinhos...


Ainda bem que guardo algumas preciosas e deliciosas lembranças de momentos da nossa infância em que tivemos isso... Das brincadeiras com a Shirley no Rio, de desenhar o sol no chão pra parar de chover, das latinhas com água na porta da geladeira que me impressionavam, do ciúme da Giane quando ela vinha me visitar ... Com a Ana Paula em Bom Conselho, da porta cortada no meio com a parte de cima sempre aberta, das pulseiras da feira que colecionávamos, do barco Vicking, da praça... Da prima mais velha Elaine, a quem eu não dava sossego, pedindo "vamo brincá de pambelinha"... De como eu as achava lindas e me sentia o patinho feio... De como a casa da tia Juliene era o melhor lugar do mundo... Da batata frita especial em rodelas inigualavelmente fininha e crocante da tia Leda... Só ela em todo o Universo tinha aquele cortador... Das férias na tia Zuleica, batata frita, churros, bagunça e alegria... Das visitas à tia Célia, o pânico do elevador...


Houve um tempo em que sonhei com uma grande família... Acho que para realizar essa parte dei minha contribuição a contento, né? E você também... rs


Houve um tempo em que senti sua falta e me perguntei como a minha irmãzinha que eu cuidava tanto e tinha tanto medo de perder no mercado, na praia pôde ter se transformado numa completa estranha e tão distante de mim... Só mais tarde fui saber que esse "vírus" ataca todos os aborrescentes...


Houve um tempo em que desejei que fôssemos amigas, companheiras, confidentes, que compartilhássemos ideias, sentimentos, preocupações e trocássemos experiências, desabafos, conselhos... Enfim, que tivéssemos coisas em comum. Só depois de termos filhos é que isso foi acontecer. O que só vem mostrar que tudo tem seu tempo.


Há tempo pra tudo e sempre é tempo de agradecer. Então OBRIGADA, maninha! Por cuidar do meu bebê mesmo já tendo o seu pra cuidar. Por ser a irmã mais velha quando eu virei criança de novo. Por ficar comigo quando eu estava mais pra lá do que pra cá. Por cuidar de mim. Por não me falhar quando precisei.


Alguém me disse uma vez que a vida é feita de gestos. Pequenos e grandes gestos que marcam a nossa vida, fazem a nossa história. Alguns valem uma vida inteira. E merecem eterna gratidão.


Valeu, mana! Tá valendo! Feliz Ano Novo! Pra começarmos de novo. Com tudo novo de novo...


Que cada ano nos traga um tempo melhor! Que a cada ano o nosso tempo fique melhor!