quinta-feira, 21 de abril de 2011

Síntese

 
Meu querer é tão louco
que todo ter é pouco.
Até o mais absoluto ter
ainda seria pouco
para esse louco querer
que, de tão louco,
vive do próprio querer.


sábado, 16 de abril de 2011

Plêiades




Somos sete estrelas irmãs.
São sete as letras do meu nome,
sete os eus dentro de mim...
Serão sete
as vezes que te amei?



sábado, 9 de abril de 2011

ADVERTÊNCIA — Ilusão de ótica



Não se engane.
Não se trata de você.
Em cada verso
        palavra
        letra
é a mim que se lê,
ainda que refletido
em outrem
qualquer.

domingo, 3 de abril de 2011

História de Clara





Pequena e frágil, ela nasceu da neve, mas tinha uma chama interna que a derreteu. Cresceu, virou mulher.
Sua pele, de tão branca, ficou transparente: podia-se ver seu coração pulsando, o sangue correndo nas veias.
Seus olhos tinham uma cor diferente, indefinível, quase transparente, que mudava de tom conforme o sentimento. Possuíam um brilho especial, singular, onde se podia ler seus pensamentos.
Mas continuava crescendo, a pele branca esticando, ia ficando cada vez mais transparente... Sentia-se envergonhada, o coração exposto, o vermelho intenso do sangue pulsando... Sentia-se nua, à mercê do mundo.
Menina-mulher, ainda crescia e cada vez menos aparecia. Até que nada mais dela se via (nem sangue, nem coração), a não ser sua alma, sua aura, uma flama, uma luz sutil, peculiar, que mudava de cor conforme o momento, o pensamento, o sentimento.
Um dia, mulher-menina, olhando-se no espelho, de repente já não se via mais. Nele se refletia a imagem do outro, por trás de si, através dela...
...
Mas o mundo descobriu. E a apontou. E a acusou. De feitiçaria.
E como bruxa o mundo a julgou, condenou, castigou, executou...
Como bruxa foi queimada, condenada, não a morrer, mas a arder eternamente na fogueira.
Acreditavam que o fogo a purificaria, mas não enxergaram, em meio às labaredas, a verdadeira chama da vida.
Ninguém percebeu que não passava de um anjo.