Onde vai como branca alcíone buscando o rochedo pátrio nas solidões do oceano?" (José de Alencar)
terça-feira, 4 de novembro de 2025
QUARENTENA
Nesse mundo novo,
transformado e transtornado
de repente e sem aviso (?),
quando o mundo em que eu nasci
deixou de existir...
Nesse mundo estranho
e sem abraços,
em que a única certeza
é a incerteza...
Nesse mundo de pesadelo,
de insegurança e de medo,
de angústia e desorientação,
de apego e desapego
e de imposta auto reflexão...
Nesse mundo de cabeça pra baixo
e virado ao avesso,
onde faltam abraços
e sobram saudades...
Nesse mundo insano e sem festas,
onde nos sentimos perdidos,
onde estamos juntos separados
e separados juntos...
Nesse mundo confuso e complicado,
onde avós fogem de netos
e netos fogem de avós,
por amor...
Nesse mundo de extremos,
onde a idade nos separa,
onde se esquiva do abraço
de uma criança...
Nesse mundo de tristeza e preocupação,
de encontros, desencontros e separações,
onde afastamento é prova de amor...
Nesse mundo desconhecido,
de descobertas e redescobertas,
de abraços ausentes
e excesso de ansiedade...
Nesse mundo apocalíptico,
que cobra distanciamento
e exige introspecção...
Nesse mundo em crise,
de fim e recomeço,
de rever conceitos,
redefinir prioridades
e atualizar definições...
Nesse mundo insano e surreal,
de esperança e espera
de um novo normal (seja lá o que isso for)...
Nesse mundo de abraços proibidos
e solidão compulsória,
onde o isolamento é obrigatório
e a união também...
Nesse mundo onde somos
impedidos de nos tocar
e forçados a nos enxergar,
a enxergar o outro,
a existência do outro,
a vulnerabilidade do outro,
a dor do outro...
Porque a dor do outro,
num efeito dominó ou borboleta,
de um jeito ou de outro
um dia há de me encontrar...
Que o legado involuntário
para a Nova Era seja esse:
a impossibilidade
de ignorar o outro.
Alcíone Pimentel
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